Enfant

mercredi, février 28, 2007

#8


#7


Antes de estudar o Zen, as montanhas são montanhas e as águas são águas; após uma primeira noção sobre a verdade do Zen, as montanhas já não apenas montanhas e as águas já não são apenas águas; mas, quando se atinge o conhecimento, as montanhas voltam a ser montanhas e as águas voltam a ser águas.” (Seigen)

A. E.


Deus não joga dados.
A. E.

Acontece - Pablo Neruda

Acontece


Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém e ninguém entrou,
sentou-se numa cadeira e transcorreu comigo, ninguém.
Nunca me esquecerei daquela ausência que
entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.
Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.
Que entrevista espaçosa e especial!
Pablo Neruda (Últimos Poemas)

Criança, era outro... - Fernando Pessoa


Criança, era outro...

Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora,
um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi ?
Fernando Pessoa

Último Brinde - Anna Andreievna Gorenki


Último Brinde


Bebo ao lar em pedaços,

À minha vida feroz,

À solidão dos abraços

E a ti, num brinde,

ergo a voz...

Ao lábio que me traiu,

Aos mortos que nada vêem,

Ao mundo, estúpido e vil,

A Deus, por não salvar ninguém.


* Последний тост Я пью за разоренный дом,

За злую жизнь мою,

За одиночество вдвоем,

И за тебя я пью,

- За ложь меня предавших губ,

За мертвый холод глаз,

За то, что мир жесток и груб,

За то, что бог не спас.


1934, Anna Akhmatova, pseudónimo de Anna Andreievna Gorenki nasceu nos arredores de Odessa em 1889 e faleceu nos arredores de Moscovo em 1966.

Borges e eu - Jorge Luís Borges


Borges e eu
Ao outro, a Borges, é que acontecem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e demoro-me, talvez já mecanicamente, na contemplação do arco de um saguão e da cancela; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo o seu nome num trio de professores ou num dicionário biográfico. Agra­dam-me os relógios de areia, os mapas, a tipografia do século XVIII, as etimologias, o sabor do café e a prosa de Stevenson; o outro comunga dessas preferências, mas de um modo vaidoso que as converte em atribu­tos de um actor. Seria exagerado afirmar que a nossa relação é hostil; eu vivo, eu deixo-me viver, para que Borges possa urdir a sua literatura, e essa literatura justifica-me. Não me custa confessar que conseguiu certas páginas válidas, mas essas páginas não me podem salvar, talvez porque o bom já não seja de alguém, nem sequer do outro, mas da linguagem ou da tradição. Quanto ao mais, estou destinado a perder-me definitivamen­te, e só algum instante de mim poderá sobreviver no outro. Pouco a pouco vou-lhe cedendo tudo, ainda que me conste o seu perverso hábito de falsificar e magnificar. Espinosa entendeu que todas as coisas querem perseverar no seu ser; a pedra eternamente quer ser pedra, e o tigre um tigre. Eu hei-de ficar em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas reconheço-me menos nos seus livros do que em muitos outros ou no laborioso toque de uma viola. Há anos tratei de me livrar dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e com o infinito, mas esses jogos agora são de Borges e terei de imaginar outras coisas. Assim, a minha vida é uma fuga e tudo perco, tudo é do esquecimento ou do outro.
Não sei qual dos dois escreve esta página.
Jorge Luís Borges

Tanto faz

Tanto faz
Uma coisa amarela,
é isso o que eu quero.
Quem sabe a lua nova,
quem sabe um dia manso.
Talvez um galho de sol
sobre um rio cansado.
Uma coisa amarela,
eu quero, porque quero.
Talvez, cheiro de outono,
quem sabe, um pedaço
de vento, folha, areia,
coisa que vem de dentro.
Qualquer coisa, eu quero.
Da cor que regenera.
Qualquer tom de amarelo,
que não seja sorriso.
Pode ser até um beijo,
alguma coisa acesa.
Fogo, faca, afago
de tirar meu fôlego.
Quero, porque preciso,
alguma coisa qualquer.
Quem sabe uma palavra,
ainda que fosse suja.
Quem sabe só uma flor
chegando com urgência.
Uma coisa amarela,talvez.
Como um susto.

Silvana Guimarães


jeudi, février 22, 2007

Rudolf Steiner



Rudolf Steiner
Temos que erradicar da alma todo medo e terror do que o futuro possa trazer ao homem.Temos que adquirir serenidade em todos os sentimentos e sensações a respeito do futuro.Temos que olhar para frente com absoluta equanimidade para com tudo que possa vir.E temos que pensar somente que tudo o que vier nos será dado por uma direção mundial plena de sabedoria.Isto é parte do que temos de aprender nesta era, a saber: viver em pura confiança. Sem qualquer segurança na existência; confiança na ajuda sempre presente do mundo espiritual.Em verdade, nada terá valor se a coragem nos faltar.Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as noites.




Rudolf Steiner (Bremen 27.11.1910)

Rudolf Steiner nasceu em 27 de fevereiro de 1861 em Kraljevec (Áustria). Apesar de seu interesse humanístico, despertado ainda na infância por uma sensibilidade para assuntos espirituais, cumpriu em Viena, a conselho do pai, estudos superiores de ciências exatas. Por seu desempenho acadêmico, a partir de 1883 tornou-se responsável pela edição dos escritos científicos de Goethe na coleção Deutsche Nationalliteratur.
Convidado a trabalhar no Arquivo Goethe-Schiller em Weimar (Alemanha), Steiner tranferiu-se para essa cidade em 1890, onde residiu até 1897. Ali desenvolveu um grande interesse cognitivo e uma consequente atividade literário-filosófica, sendo dessa época sua obra fundamental A filosofia da liberdade (1894).
Após alguns anos em Berlim como redator literário, passou a dedicar-se a uma intensa atividade de conferencista e escritor, no intuito de expor e divulgar os resultados de suas pesquisa científico-espirituais, de início no âmbito da Sociedade Teosófica e mais tarde da Sociedade Antroposófica, por ele fundada.
Primeiro Goetheanum


Em Dornach (Suíça), Steiner construiu em madeira o Goetheanum, sede da Sociedade (e mais tarde também da Escola Superior Livre de Ciência Espiritual), destruído em dezembro de 1922 por um incêndio e posteriormente substituído pelo atual edifício em concreto. Foi em Dornach que ele morreu em 1925, deixando extraordinárias contribuições nos campos das artes, da organização social, da pedagogia (Waldorf), da medicina, da farmacologia, da agricultura, da pedagogia curativa, etc.
Por oferecerem uma alternativa às cosmovisões e soluções meramente materialistas, tiveram elas grande repercussão e inspiraram o surgimento de instituições e atividades antroposóficas em todos os continentes.

Segundo Goetheanum.

lundi, février 12, 2007

Os Herschel




Os Herschel: a história de uma família de músicos e a sua contribuição para a Astronomia


Filho de um oboísta, Willian Herschel (1738-1822) nasceu em Hannover (Alemanha), onde começou a estudar violino aos quatro anos de idade. Mudou-se para a Inglaterra em 1760. Em 1766, depois de passagens por Londres e Durham, assumiria a posição de organista na Octagon Chapel em Bath – acolhedora cidade de águas termas, culturalmente efervescente nos séculos XVIII e XIX, tendo sido residência de grandes figuras da ciência e das artes, como a escritora Jane Austen. Nos 18 anos seguintes à sua mudança para Bath, Herschel desenvolveria uma intensa carreira como instrumentista, professor de música e compositor.

Com um estilo de transição entre o barroco e o clássico, compôs de peças para instrumento solo a sinfonias, geralmente dando destaque ao oboé, violino, harpa e orgão – seus instrumentos de formação. Também compôs várias peças vocais.
Entretanto, paralelamente à música, interessou-se pelo estudo da Astronomia. Impossibilitado de comprar um telescópio por questões financeiras, Herschel começou a construir seus próprios equipamentos, contando com a ajuda de seus irmãos, Alexander, Dietrich e Carolina (1750 – 1848), trazida por William de Hannover para Bath em 1772. Ela, que a principio chateava-se com a bagunça produzida na casa pelos experimentos do irmão, viria a ser sua maior assistente, além de desenvolver uma carreira científica própria.
Por volta de seus 40 anos, as atividades de pesquisa científica se sobrepuseram à carreira musical de William. Como astrônomo, ocupava-se principalmente em elaborar catálogos completos das estrelas no Hemisfério Norte e de “nebulosas” (no início do século XX seria descoberto que muitos destes objetos eram, de fato, outras galáxias e não nebulosas). O trabalho ao qual se propunha exigia contínuo desenvolvimento instrumental e uma bem elaborada sistemática observacional. Por conta disso, William foi um construtor de telescópios revolucionário, esforçando-se para aprimorar telescópios refletores (ou seja, com espelhos), em uma época na qual a maioria dos intrumentos eram refratores (com lentes).
Foi em 13 de março de 1781, com um telescópio instalado nos jardins de sua principal residência em Bath, que William Herschel descobriu Urano, o primeiro planeta invisível à olho nú.
Urano é o sétimo planeta a partir do Sol, sendo quatro vezes maior do que a Terra. É um dos planetas gasosos, ou jovianos, assim como Saturno, Júpiter e Netuno. Os dois maiores satélites de Urano, Titânia e Oberon, também foram encontrados por Herschel, em 1787. Atualmente existem 22 satélites catalogados e um sistema de 9 anéis, descoberto em 1977.

Herschel também descobriu dois satélites de Saturno, Enceladus e Minas, ambos em 1789.
A residência que protagonizou a descoberta do novo planeta foi transformada no William Herschel Museum. Hoje, esta bem conservada casa abriga os livros, anotações e equipamentos dos Herschel. Estão expostos, por exemplo, espelhos polidos por William, projetos de telescópios e uma réplica do instrumento utilizado na descoberta de Urano. Além, é claro, da sala de música com os seus instrumentos e registros da atividade musical.

No ano seguinte à descoberta de Urano, William foi nomeado “Astrônomo do Rei” e mudou-se com a família para Datchet e posteriormente para Slough. Foi nesta última cidade que, com o apoio de George III, Herschel tentou implementar seu projeto mais ambicioso: um telescópio refletor, com espelho de cerca de 1.2 metros de diâmetro e 12 metros de comprimento. O equipamento jamais funcionou a contento, principalmente pela imensa dificuldade de produzir naquela época um espelho de qualidade com o tamanho desejado.

Assim, William Herschel ficou reconhecido pela história devido ao seu trabalho de Astrônomo, apesar da bem sucedida carreira de músico, professor e compositor. Muitas das composições foram perdidas, entretanto existem alguns registros recentes de sua obra, como a gravação de uma seleção de peças para orgão por Dominique Proust, organista mas também Astrofísico do Observatoire de Paris-Meudon.
Faleceu em 1822 deixando um único filho, então com 30 anos. Sir John Herschel seguiu os passos de seu pai e de sua tia e tornou-se um astrônomo prestigiado, após receber prêmios como matemático. Paralelamente realizou experimentos de Biologia e colaborou para o desenvolvimento da fotografia. Foi um dos fundadores da Royal Astronomical Society. Desenvolveu pesquisas sobre estrelas binárias e completou um dos principais trabalhos de William, ao deslocar-se para a África do Sul, construir um observatório e catalogar estrelas do Hemisfério Sul. Em 1839, John participou da cerimônia de demolição do telescópio de Slough, o grande sonho de seu pai.

Carolina Herschel, a caçadora de cometas
Quinta entre seis irmãos, Carolina Herschel foi enviada para a Inglaterra em 1772, a fim de cuidar da casa de William (era considerada pela família “feia para casar”). Recebeu aulas de canto e harpa de seu irmão. Soprano de talento, foi solista na apresentação de composições originais de William e formou com ele e outro irmão, Alexander, um grupo de música de câmara.
William também apresentou a matemática e a astronomia à Carolina e a tornou, em um primeiro instante, sua competente assistente para a realização e análise das observações. Mas ela logo desenvolveria seus próprios interesses científicos, em particular a procura de cometas. Para isso, seu irmão a presenteou com um telescópio refrator com o qual ela começou suas bem-sucedidas buscas. Carolina Herschel descobriu oito cometas, entre 1786 e 1797.

Foi a primeira mulher a possuir uma posição oficial e remunerada como cientista, ao receber do Rei George III um salário mensal de 50 libras para ser a assistente de William.
Apesar de sua contribuição à Astronomia e para a inclusão das mulheres na carreira científca, Carolina Herschel se mostrava humilde e discreta, reflexo talvez da posição imposta à mulher na sociedade da época. Teria declarado: "Eu não sou nada, eu não fiz nada demais. Tudo o que eu sou, que eu sei, devo ao meu irmão. Fui uma ferramenta que ele moldou para seu uso – um cachorrinho bem treinado teria feito o mesmo”. Prestigiada e reconhecida por seu trabalho original, faleceu aos 96 anos em Hannover, para onde retornou depois da morte de William.

mardi, février 06, 2007

O Presente


Ah meu caro amigo, isto foi há muito tempo. Eu deveria estar com uns doze anos na época e ainda não andava por causa da paralisia. Era uma tarde fria e mamãe a convidou para o chá depois de nossa aula de piano. Ficamos a sós na cozinha por longo tempo pois mamãe estava deveras assoberbada neste dia. Estávamos tomando chá e saboreando os biscoitos, mastigando pausadamente, nos observando em silêncio tentando perpetuar o momento. Só havia o tilintar das xícaras contra os pires. Parecia que éramos velhos, companheiros de longa data. Amigos, confidentes, daqueles que quando permanecemos muito tempo em silêncio, não sentimos incomodo algum. Ao contrário, estávamos a compartilhar nossas solidões. De súbito, ela levantou-se, ajoelhou-se aos meus pés embaixo da mesa e abraçou profundamente minhas pernas. Ela não se moveu por alguns minutos. Levantou-se apenas quando ouviu os passos de mamãe descendo novamente as escadas. Este momento fixou-se para sempre em minha memória.
Alguns meses depois ela mudou-se para outra cidade e nunca mais a vi. Este foi um período de escuridão em minha vida. As aulas de piano tornaram-se monótonas e entediantes até chegar o dia em que decidi que tocaria para ela. Porém no dia em que ela foi-se embora, deixou-me estas caixas com frases enigmáticas dentro de cada uma delas. Todas as manhãs quando estou ao piano, lembro-me dela. E quando sinto-me só como me sentia naquela época, abro uma das caixas e leio aquelas frases enigmáticas escritas com letra de criança.
Cristine Larissa Clasen

Virgínia Vitorino 1895-1967


"Tristeza"

Nos dias de tristeza, quando alguém
Nos pergunta, baixinho, o que é que temos,
Às vezes, nem sequer nós respondemos:
Faz-nos mal a pergunta, em vez de bem.

Nos dias dolorosos e supremos,
Sabe-se lá donde a tristeza vem?!...
Calamo-nos. Pedimos que ninguém
Pergunte pelo mal de que sofremos...

Mas, quem é livre de contradições?!
Quem pode ler em nossos corações?!...
Ó mistério, que em toda parte existes...

Pois, haverá desgosto mais profundo
Do que este de não se ter alguém no mundo
Que nos pergunte por que estamos tristes?!

Edna St. Vincent Millay (1892-1950)


SONETO XIX
Tu também morrerás, cinza adorada.
Essa beleza é certo que pereça,
essa mão, essa esplêndida cabeça,
esse corpo de argila iluminada.

Sob o gume da morte, ou sob a geada,
serás mais uma folha que estremeça
e com as outras te vás, verde e travessa,
depois morta, sem cor, desintegrada.

De nada o meu amor terá valido,
apesar deste amor, tu chegarás
ao fim do dia e tombarás vencido,

obscuro como a flor que cai, por mais
que tenhas sido belo, e tenhas sido
mais amado que todos os mortais.

Edna St. Vincent Millay

jeudi, février 01, 2007

Robert e Shana ParkeHarrison


Robert e Shana ParkeHarrison fizeram uma entrada fulgurante na cena artística com seu trabalho conjunto composto por estruturas simultaneamente elaboradas e artesanais (algumas levando semanas a construir)que aliam-se a técnicas fotográficas do século XIX para criar metáforas visuais com uma mensagem ecológica e social. Mas, para além da reconhecida qualidade, o que torna único o trabalho desta dupla é a sua postura engagée não descambar no sentimentalismo serôdio da sacralização new age da Mãe-Terra (tão comum em outros "eco-artistas"), pois se há um traço que perpassa o conjunto da obra dos ParkeHarrisons é a sua ironia.