Enfant

mercredi, janvier 24, 2007

O Baú


É exatamente de dentro dele que saem os fantasmas que a assombram. Transbordante de fotos antigas e cartas tristes. Ainda seguem aqueles dias em que ela não consegue dormir em casa porque o baú permanece lá, de frente a porta do quarto dela. São lembranças que a atormentam, vozes que sussurram ao seu ouvido, crianças que recostando-se ao pé da porta, choram. Passos inauditos que correm pela casa. Ontem abri a porta do quarto e observei o baú. Fechado, empoeirado, em silêncio. Pareceu-me antigo, muito antigo. Eu o teria vendido a um antiquário, já que ele a atormenta. Se fosse meu, o colocaria na sala e as vezes tomaria café sentada sobre ele. Espero que este objeto faça seu destino, assim como faço o meu e ela faz o dela. Melhor que assim seja, todos no comando de suas vidas. Vidas humanas e vidas de objetos. Cada qual com suas lembranças. Suas chegadas e partidas, histórias que por vezes veladas ainda permanecem.
- Não, de modo algum! O baú não pertence a ela! Claro que não! As cartas, fotos e lembranças também não! Ora, como vou saber por que a atormentam? Ela simplesmente os vê e os ouve. Sim, continua dormindo fora de casa.
Cristine Larissa Clasen