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dimanche, février 22, 2009

CAPÍTULO VI - O CLASSICISMO - (da segunda metade do século 18 até o início do século 19)

CAPÍTULO VI


O CLASSICISMO - (da segunda metade do século 18 até o início do século 19)



1 - Introdução



Na busca de criar uma sociedade livre dos entraves feudais e aristocráticos, ampliando o progresso material, sucederam grandes e violentas mudanças nos panoramas europeu e mundial: as lutas pela Independência nos Estados Unidos (1776) e nas colônias latino-americanas (a partir de meados do século 18), o início da Revolução Industrial, a vigorosa Revolução Francesa e as guerras Napoleônicas. Cada fato complementou o outro em torno dos ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.



Na filosofia, o Iluminismo incentivava a discussão política em torno das noções de democracia, república, direitos humanos etc. e, também, das crenças religiosas, que foram livremente admitidas e toleradas, bem como duramente criticadas.



Nas artes do período, desenvolveu-se o estilo Neo Clássico (ou Arcadismo) da Literatura e das Artes Visuais. Esta estética defende, num sentido amplo, o racionalismo, a procura do belo, a perfeição, o equilíbrio, a simetria, a proporção, a imitação não da natureza, mas de obras de outros autores.



A palavra "classe" indicava o cargo militar e a posição social de cada indivíduo na sociedade romana e o condicionava a um grau de instrução específico. Na Idade Média e, depois, no Renascimento, passou a designar as obras filosóficas, jurídicas e literárias produzidas pelos gregos e romanos que deveriam ser lidas, estudadas e apreciadas nas universidades. Na História da Arte, derivando-se desta situação, passou a designar toda obra produzida entre os séculos 14 e 18 inspirada na estética greco-romana. Atualmente, clássico é o conceito que damos a qualquer obra, independente de época, estilo ou origem, considerada modelar, pioneira e de qualidade, reveladora da inteligência e sensibilidade humanas.



A expressão "música clássica" é, comumente, sinônimo de música erudita.

O termo Classicismo foi aplicado, a posteriori, pelos historiadores, à música compreendida entre 1750 e 1800.









2 - Características gerais



A música deste período é tonal, isto é, todos os acordes são trabalhados em vista de suas funções. Esta organização, que foi feita por Bach, Rameau e outros do final do século 17 e início do século 18, propiciou:

a) uma maior riqueza harmônica (vinte e quatro tonalidades: doze escalas maiores e doze menores);

b) o entendimento do mecanismo dos encadeamentos dos acordes e das modulações);

c) um planejamento mais orgânico e mais fluente na composição (os compositores estavam mais preocupados em elaborar estruturas sonoras abstratas e não precisavam de muletas extramusicais, como a teoria dos afetos) ;

d) a exploração de um maior contraste de tonalidades entre um andamento e outro;

e) abandono do baixo-contínuo, pois os acordes passaram a ser escritos completos;

f) a afinação mais precisa e uniforme dos instrumentos musicais, podendo combinar muito mais entre si e tornando a orquestração mais rica;

g) a invenção da armadura de claves.



No classicismo a dinâmica passou a ser explorada em todas as suas possibilidades. Nos períodos anteriores não se usava, ou melhor, não se indicava objetivamente alguma mudança de nuances deste parâmetro. Na última fase do Barroco, havia somente indicações de contrastes entre trechos musicais em "piano" e "forte". Já os clássicos tiveram a idéia de se utilizar do "crescendo" e do "decrescendo", graduando a dinâmica e inventando seus respectivos sinais. Esta técnica foi muito desenvolvida pelos compositores de Mannheim (Alemanha) e divulgada posteriormente por Haydn e Mozart.



Novos instrumentos apareceram: entre eles o piano (inventado em 1698 por Bartolomeo Cristofori – 1655/1731, para que tivessem à mão um instrumento de teclado que pudesse dar sons suaves e fortes) e o clarinete (inventado no início do século 18 por Jacob Denner -1681/1735). Melhoraram os mecanismos e as extensões do oboé e do fagote. O violoncelo ganhou uma ponta para apoiá-lo no chão (antes era preso entre as pernas pelo executante) e descobriram a maravilha do seu timbre.



A orquestra sinfônica ("orquestra que toca sinfonias") se padroniza com o quinteto de cordas, sopros de madeira aos pares, flautas, oboés, clarinetes e fagotes, sopros de metal aos pares (ytrompas e tromptetes) e um par de tímpano. O número total chegava ao máximo de 35 executantes.



Joseph Haydn inventou o quarteto de cordas (dois violinos, viola e violoncelo), uma combinação soberba de música de câmara.



Os antigos consortes renascentistas e barrocos começam a desaparecer: as flautas-doce, as violas medievais, entre outros, são excluídos do repertório.



O regente ainda dirige a orquestra do cravo, do piano ou como primeiro-violinista.



Nas óperas e outras peças com muitos executantes, a solfa e o bastão foram deixados de lado em troca da batuta, pequena vareta para orientação dos músicos, mas ela só se tornou comum no século 19. Muitos preferiam usar as mãos.



3 - Forma



Os compositores austro-alemães, estabelecidos em Viena, elaboraram grandes formas musicais abstratas devido a quatro fatores básicos:

a) a organização do sistema tonal;

b) as características da arte da época que buscava clareza, proporção e equilíbrio;

c) a necessidade de expressar a filosofia iluminista, racional e científica;

d) a censura política no universo da cultura alemã (a literatura e o teatro eram vigiados).



3.1 - Forma-sonata



Recebeu este nome porque era usada nas peças chamadas sonatas. Há vários nomes alternativos: "sonata forma", forma "allegro-de-sonata" (neste caso é um equívoco, pois outros andamentos eram compostos desta maneira); forma "tripartite-de-sonata", entre outros nomes.



Surgiu dos desdobramentos de experiências levadas a cabo por Pergolesi e Carl Philip Emannuel Bach e os compositores vienenses a fixaram assim:



- EXPOSIÇÃO: o primeiro tema é apresentado na tonalidade principal e depois vem um segundo na tonalidade secundária, subordinada à primeira tonalidade;

- DESENVOLVIMENTO: os temas são modulados (mudanças de tonalidades) e trabalhados de várias maneiras (variação melódica e mudança no ritmo entre outras coisas);

- REEXPOSIÇÃO: os temas voltam, mas o segundo tema tem uma pequena modificação, voltando na tonalidade principal, o que causa uma surpresa, e ao mesmo tempo dá o equilíbrio musical necessário.

No meio de tudo isto há uma complexa trama musical com pontes modulatórias (chamadas também de brincadeiras ou divertimentos, geralmente em forma de harpejos ou de escalas ascendentes e descendentes), mudando para a nova tonalidade ou embelezando a composição, com codettas (fechando seções intermediárias) e com coda, para encerrar a peça. As pontes, a codetta e a coda podem extrair elementos dos temas nas suas configurações.



No final do século 18, os compositores colocaram uma seção introdutória, no primeiro andamento, com um tema novo, normalmente em andamento lento.



3.2 - Forma-canção



Seguindo o modelo ternário, a forma-canção é derivada da ária-da-capo e do "lied" (um tipo de canção folclórica alemã).



O seu esquema é o seguinte:

- SEÇÃO A: tema principal

- SEÇÃO B: tema secundário

- SEÇÃO A”: tema principal com alguma mudança de aspecto (melódico, instrumental, etc...)



Com o tempo, os compositores passaram a colocar uma introdução, pontes modulatórias, codettas e coda final.



3.3 - Forma-romance



É a ornamentação de um tema, geralmente de cárater “cantábile”, passando-o por várias tonalidades. Muitas vezes esta forma é fundida com a forma-canção.

Mozart, Haydn, Beethoven, entre outros, a utilizaram em seus andamentos lentos.



3.4 - Tema e variações



É a modificação de um tema. Pode ocorrer em vários níveis: mudança na melodia, na tonalidade, no arranjo harmônico, no ritmo, na expressão e no caráter, na dinâmica, no andamento, no timbre, na articulação, na ornamentação, etc...



O tema a ser trabalhado pode ser invenção própria ou de outro compositor.

E o modelo é:

TEMA - VAR. 1 - VAR. 2 - VAR. 3 - ... - VAR. "N"

Pode haver introdução, pontes, codettas e coda.

3.5 - Forma minueto-e-trio



Os compositores utilizavam-se muitas vezes do minueto para dar um caráter mais ameno e gracioso a uma peça, aliviando assim um pouco o cerebralismo das outras formas. Entretanto, mesmo mantendo o seu caráter original, não serve para dançar.



A seqüência obedece ao esquema: MINUETO (tom principal) - TRIO (tom secundário) - MINUETO (repetição do início)



O trio (ver explicação sobre este termo na suíte barroca) é um segundo minueto e as diferenças entre os dois é a seguinte:

- MINUETO - é vivo, forte e com orquestração cheia;

- TRIO – é calmo, leve e com poucos instrumentos.



Haydn, nas suas últimas obras, começou a substituir o ritmo do Minueto (uma dança que estava saindo da moda no final do século 18) pelo Scherzo ("brincadeira" em italiano), uma peça livre com caráter mais rítmico e jocoso, seguido por um Trio, mais terno.



3.6 - Forma rondó



Esta forma foi desenvolvida, desde a Idade Média, a partir da correspondente forma poético-musical. É uma sucessão de refrães (ou estribilhos) e estrofes (ou coplas).



Tem o seguinte esquema básico:

A B A B A



Em música, a seção A é chamada de tema principal e está sempre no tom principal.

A seção B é denominada episódio e sempre está numa tonalidade secundária.

Os compositores podem optar por colocar mais episódios, daí este esquema assume vários aspectos; por exemplo:

A B A C A B A

A B A B A C A

A B A C A D A



O tema principal pode reaparecer ligeiramente modificado em suas “nuances”.

Os episódios contém muitos elementos de contrastes em relação ao tema principal e entre si, que vão desde as diferenças temáticas e tons até arranjos e orquestração. Há também introdução, pontes, codettas e codas. Há uma complexa relação tonal entre as partes.



Na pesquisa dos compositores, estas formas assumiam vários aspectos com fusão entre elas, simplificações etc... Seria preciso estudar detidamente cada composição para fazer-se compreender. Além disto, devo lembrar que estas formas são apenas modelos criados por musicólogos, historiadores, teóricos e professores, “a posteriori”, para facilitar o entendimento das obras para execução e apreciação. O compositor, na prática, trabalhava em cada obra de acordo com a sua necessidade, variando, como bem lhe aprouvesse, nos detalhes, o modelo que tinha em mãos. Além disto, composição, antes de mais nada, é imaginação, pesquisa, experimento e criação.



Todas estas formas eram utilizadas para compor qualquer obra, instrumental ou vocal.



4 - Gêneros



4.1 - Instrumental



4.1.a - Sonata e música de câmara



A origem da sonata clássica está no cruzamento da suíte com a abertura italiana, mais a trio-sonata barroca. Na segunda metade do século 18, sonatas para instrumento solo (geralmente para teclado) eram compostas, normalmente, em três andamentos, acrescentando, mais tarde, o "minueto e trio".





























O esquema geral, com suas relações tonais, formais e de andamento, ficou assim:



PEÇA
ANDAMENTO
TONALIDADE
FORMA

I
Rápido ou moderado
Principal
Forma-sonata

II
Lento
Secundário
Forma-sonata (sem desenvolvimento) ou forma-canção ou forma-romance ou temas e variações

III
Moderado
Principa;
Minueto/trio ou scherzo/trio ou outro qualquer

IV
Muito rápido
Principal
Forma-sonata ou forma-rondó






Sonatas para mais instrumentos (genericamente denominadas “música de câmara”) recebem nomes específicos, de acordo com o número de instrumentos:

Dois ......................................duo

Três .......................................trio

Quatro ...............................quarteto

Cinco .................................quinteto

Seis ....................................sexteto

Sete ...................................septeto

Oito ...................................octeto

Nove ..................................noneto



Combinações para dez ou mais instrumentos recebiam os nomes de serenata, divertimento, cassação e outros, dependendo da utilidade, instrumentação e destinatário.



Muitas sonatas a solo para instrumento melódico (violino, flauta ou oboé, por exemplo) tinham acompanhamento obbligato ("obrigatório" em italiano) de instrumento harmônico (piano, clavicembalo, cravo, órgão etc...).



4.1.b - Sinfonia



A sinfonia é uma sonata para orquestra e segue os mesmos padrões formais acima. Entretanto muitas sinfonias eram simplesmente aberturas italianas de óperas e não seguem este critério.







4.1.c - Concerto solo



Os compositores da segunda metade do século 18 abandonaram o concerto grosso e se dedicaram ao concerto solo, principalmente aqueles que eram hábeis instrumentistas.



O concerto era sempre em três andamentos. No primeiro, de velocidade entre a moderada e a rápida, os compositores procuraram fundir a forma-sonata com a técnica do executante e chegaram ao seguinte esquema:



SEÇÃO
EPISÓDIOS

A EXPOSIÇÃO dos temas pela orquestra e depois pelo solista

B
DESENVOLVIMENTO, onde solista e orquestra trocam idéias

A”
REEXPOSIÇÃO dos temas pelo solista e pela orquestra

C
CADENZA: parte em que o solista mostra sua técnica

D
CODA: a orquestra finaliza a composição




A cadenza ("cadência" ou "caída" - no caso musical "cair para o tom" - em italiano) é um trecho para a exibição do solista, sem acompanhamento da orquestra. Não era escrita porque era para o solista improvisar livremente sobre os temas (isto acarretava sérias brigas com os compositores). Quando o solista iria parar de improvisar, avisava com um trinado. Outras cadenzas, escritas ou não, com ou sem acompanhamento orquestral, pontuavam todo o andamento. As relações tonais entre os temas e as seções seguiam o esquema geral da forma-sonata.



Para o segundo andamento, geralmente lento, os compositores procuraram fundir o lirismo e a técnica. Normalmente em forma-canção, forma-romance e tema-e-variações. Algumas vezes encontramos a forma-recitativo (uma melodia com intervenções orquestrais dramáticas). Cadenzas escritas ou não, com ou sem acompanhamento da orquestra, pontuavam o andamento.



No terceiro andamento, geralmente na forma-rondó, eles fundiam a rapidez com a técnica. Também as cadenzas poderiam ser escritas ou não, com acompanhamento ou não da orquestra.



Em alguns concertos de Mozart, encontramos uma mudança de caráter no último andamento, talvez querendo desmembrá-lo.





Compositores importantes de peças instrumentais, entre outros:



- Franz Xaver Richter (1709/1789)

- Johann Stamitz (1717?/1757)

- Joseph Haydn (1732/1809)

- Johann Baptist Vanhall (1739/1813)

- Carl Stamitz (1745/1801)

- Muzio Clementi (1752/1832)

- Wolfgang Amadeus Mozart (1756/1791)



Sonatas a solo, música de câmara, sinfonias e concertos são compostos ainda hoje, seguindo, mais ou menos, estes padrões formais.



4.2 - Vocal



4.2.a - Ópera



Na ópera, aconteceram inúmeras tentativas para dar combate à superficialidade dos libretos, às frivolidades dos cantores e a um tipo de música exuberante, mas sem dramaticidade.



Christoph Willibald von Gluck (1714/1787), depois de compor dezenas de óperas em estilo napolitano ou no estilo pomposo francês, procurou desenvolver um tipo de espetáculo diferente e, nos prefácios de suas óperas "Orfeu e Eurídice" (1762) e "Alceste" (1767), defendeu os seguintes pontos de vista:

· O enredo deve ser simples

· A abertura deve preparar a platéia

· O recitativo e a ária não devem atrapalhar a ação

· A música deve servir ao texto, procurando a verdade cênica



Mozart herdou e ampliou as idéias de Gluck. Como tinha profundidade dramática e grande versatilidade musical (misturou elementos estilísticos barrocos, franceses, napolitanos, a ópera bufa, o singspiel e o pré-romantismo), conseguiu caracterizar de modo adequado personagens e situações. Compôs óperas com temas mitológicos, históricos, políticos, cotidianos e até fantásticos, explorando o drama, o humor e o erotismo.









Alguns outros importantes compositores de óperas do classicismo:



- Joseph Haydn (1732/1809)

- Giovanni Paisiello (1740/1816)

- Domenico Cimarosa (1749/1801)

- Antonio Salieri (1750/1825)

- Luigi Cherubini (1760/1842)



4.2.b - Outros gêneros



Na música não-religiosa proliferavam as canções, baladas, árias, etc... Eram compostas às centenas para usofruto de cantores, castrati, vaidades de aristocratas etc...



A produção de música vocal religiosa continuava sendo enorme: missas, cantatas, hinos, ladainhas e motetos foram compostos às centenas por ano, por milhares de compositores, para atender à demanda de capelas, igrejas, cerimônias etc...



Podemos exemplificar com apenas três jóias de Mozart: a Missa da Coroação, o moteto Ave Verum Corpus e o famoso Réquiem, terminado por Franz Xaver Süssmayr (1766-1803).



5 - Vida musical



Na vida profissional, os músicos passaram a lutar por mais independência em relação à nobreza e ao clero, mas estes permaneciam como os principais empregadores. Entretanto, vários compositores já se associavam a empresários ou a editores ou eles mesmos já faziam este serviço (Haydn e Clementi, por exemplo). Alguns tentaram ser "free-lancers" (Mozart).