CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MÚSICA
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA MÚSICA
1 – Definição
A palavra MÚSICA é de origem grega e significa "A FORÇA DAS MUSAS". Estas eram as ninfas que ensinavam aos seres humanos as verdades dos deuses, semideuses e heróis, através da poesia, da dança, do canto lírico, do canto coral, do teatro etc. Todas estas manifestações eram acompanhadas por sons. Então MÚSICA, numa definição mais precisa, seria a "ARTE DE ENSINAR".
Até o século 15 ou 16, a atividade musical era exclusivamente utilitária: tinha função ritual (em todas as religiões de todos os povos de todo o mundo), tinha função de comunicação (os trovadores, os rapsodos que levavam notícias etc.), função de trabalho (marinheiros, soldados etc.), cotidiana (ninar, lavar roupa etc.), lazer (canções e dança, música ambiente nas cortes, acompanhando poemas e peças teatrais) e outras atividades sócio-artísticas (educação, medicina, militar, moda etc., propaganda - comerciais, políticas, etc., hinos de todos os tipos etc.).
A noção de ARTE DA MÚSICA, voltada exclusivamente para a criação ABSTRATA de obras que explorassem os parâmetros musicais, só surgiu no Renascimento europeu e em países como a França, a Itália, a Inglaterra e a Alemanha. É claro que encontramos nos padres medievais esta pesquisa ou mesmo na China, na Índia, na Grécia Antiga e entre os árabes, mas o alcance racionalista ocidental foi mais profundo, pois além dos tratados teóricos, desenvolveu-se toda uma grafia uniforme e precisa para registrar os sons (2 objetivos: fixação para execução, documentação e estudo e o desenvolvimento da imprensa musical). Esta MÚSICA, denominada muitas vezes de ERUDITA (ou CLÁSSICA ou de CONCERTO) é um tipo de experimentação que não tem uma utilidade prática e que serve somente para apreciação estética e destinada a um ambiente designado pelo compositor.
Assim, MÚSICA é a ARTE DA INTELIGÊNCIA HUMANA TRABALHAR COM SONS e tem por objetivo a universalidade, a abstração e a exploração técnica.
2 - O som
A matéria-prima da música é o som, que é uma forma de energia que se propaga pelo ar, pela água e por outros meios, perturbando-os de alguma maneira, e é captada pelos ouvidos. A ciência que estuda o som é a Acústica.
O som, em Música, é definido por 6 parâmetros que se relacionam entre si:
ALTURA (acústica: freqüência): é a nota ou o tom. Com ela definimos se o som é grave ou agudo. Da relação entre os sons formamos a Melodia (a sucessão temporal de sons), a Harmonia (a simultaneidade de sons), a Textura (tecido da música ou quantidade de eventos em determinado momento de uma composição). Em contraposição temos o SILÊNCIO (em música: pausa). É de fundamental importância na estruturação musical. A Altura só foi fixada teoricamente a partir do século 9 d.C.
DURAÇÃO (acústica: tempo cronológico): é a duração de emissão do som. Definimos com a duração se o som é curto ou longo. A relação entre as durações forma os ritmos. Muitos destes ritmos foram extraídos da natureza ou do corpo humano ou são criações abstratas. A duração só foi fixada a partir do século 13 d.C.
DINÂMICA/INTENSIDADE (acústica: amplitude): é a força ou a suavidade imprimida ao tocar um som. A dinâmica só começou a ser trabalhada a partir do século 18.
TIMBRE (acústica: material do objeto sonoro): são as vozes, os instrumentos ou aqueles aparelhos que os compositores elegem para intermediar suas idéias musicais. Mesmo existindo por milhares de anos, os instrumentos musicais passaram a ser explorados em todos os seus recursos sistematicamente a partir do século 19.
ARTICULAÇÃO (acústica: ataque): são os modos de produzir o som. São os tipos de toques, golpes e efeitos aplicados pelo executante na voz ou instrumento, modificando a sua qualidade. Apesar de sempre existir por milhares de anos, só no século 17 é que foi tratada teoricamente.
ANDAMENTO (acústica: velocidade): é a velocidade de execução de um som. Até o século 17 era intuitivo, mas depois passou a ser estudado com objetividade. No século 19, foi fixado matematicamente com o metrônomo e, no século 20, voltou a ser intuitivo.
Dependendo do contexto histórico (cultura, política, ciência, religião, artes etc.) do compositor, a relação dele com estes elementos físicos/musicais é que engendram as formas, os gêneros e os estilos
3 – História da Música
A noção de História da Música é praticamente recente. Tem uns 150 a 200 anos no máximo.
Os primeiros historiadores da música (e da História Geral - política, econômica, social etc.) começaram a organizar tudo com o nacionalismo romântico no início do século 19. Tudo era narrado através de fatos bastante vagos e lendários e datações imprecisas e arbitrárias.
Na música isto se agravava porque muitos registros e até partituras desapareciam rapidamente. O repertório praticamente se constituía de estréias, porque a imensa maioria das peças era feita para uma única ocasião ou era tocada logo depois de composta e, sem ser grosseiro, a música era considerada um artigo supérfluo e descartável, apesar da sua estreita colaboração nos rituais religiosos e em festas políticas.
E esta história começava em Bach (recém descoberto) e terminava em Wagner - no máximo. No século 20, ampliou-se com a inclusão da música medieval (cantos gregorianos, danças e o repertório dos menestréis, trovadores etc.), os coralistas renascentistas e a óperas do século 17, desde Monteverdi, Lully e outros e os compositores do Modernismo (Debussy, Stravinsky, Bartók, etc.).
Assim, a História da Música que estudamos é a História da Música da Europa Ocidental. Esta música não é a única, não é a mais importante e não é melhor do que a de outros povos e civilizações. É aquela na qual estamos inseridos culturalmente e que aprendemos e trabalhamos todo o seu arcabouço teórico, tocamos os instrumentos inventados ou desenvolvidos por ela e elegemos os compositores daquele continente como nossos modelos. Além disto nós delimitamos seu estudo a partir da Idade Média, mais precisamente aquelas músicas registradas depois do século 7.
As músicas dos períodos Primitivo e Antigüidade (civilizações egípcias, mesopotâmicas, gregas, romanas e de outros povos) e do início da Idade Média estão perdidas, apesar do trabalho arqueomusicológico. O que nos resta são pinturas ou esculturas de músicos, referências literárias ou religiosas, instrumentos, algumas teorias musicais e supostas "partituras", tudo muito fragmentado, disperso e precário.
De qualquer forma, o que influenciou a música européia foram as teorias gregas (modificadas pelos interesses dos teóricos medievais) e a contínua utilização de diversos instrumentos daquelas civilizações antigas. A prática musical dos judeus influenciou os cânticos dos cristãos. As atividades musicais dos povos germânicos e dos árabes influenciaram toda a música profana medieval com seus instrumentos, formas, ritmos e estruturações harmônicas.
As músicas chinesas, indianas e de outros povos asiáticos, possuem uma estrutura diferente e uma história independente, que pouco se relacionou com a da Europa, a não ser em épocas mais próximas. As músicas dos africanos, dos ameríndios e dos oceânicos só agora estão merecendo pesquisas científicas etnomusicológicas mais profundas.
As divisões históricas em períodos estilísticos são recentes e estão sujeitas ainda a revisões. No caso da música, muitos períodos não têm sincronismo com os das outras artes e nem se referem a algum detalhe específico musical. Muitos historiadores, para inserir a música num contexto sócio-cultural, batizam-na com tal ou qual nome, mas há muita polêmica. Mantive as denominações para uma orientação básica, mas pode ser que tudo isto mude algum dia.
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