Enfant

samedi, janvier 09, 2010

as nuvens



para Claudir Silveira

Outrora ele tivera uma casa cheia de móveis. Tinha predileção pelo estilo barroco e rococó. Muitos brocados e tons de dourado lhe agradavam. Chegava ao ponto de mandar fabricar réplicas de algumas peças de época. Sentia-se rodeado de uma beleza intensa. Para ele isto era tudo que fazia sentido no mundo. Nenhum lugar agradava-lhe mais que a própria casa. Aquela casa colorida e esfuziante, tão preenchida de objetos que lhe traziam sentido existencial.
Não lhe agradava a idéia de receber visitas, pois não cogitava compartilhar esse "belo" por ele construído e tão carinhosamente ornamentado. Todo o "belo" que admirava deveria existir somente para ele. Somente seu deleite importava.
Não era dado a amizades muito menos a compromissos com pessoas. Definitivamente isto não era necessário em sua existência uma vez que tudo o que precisava estava ali, a seu redor.
Não, não o julguem desta forma! De modo algum ele era infeliz.
Um dia, acordou cedo, mais cedo que o habitual. Tomou seu café fabricado na Etiópia em sua xícara preferida, pintada mão com tinta artesanal feita de ouro líquido platina, queimada a 700ºC.
Neste dia, Edmond, o vizinho do prédio ao lado que sempre o observava, com assídua curiosidade, durante anos, o viu, depois do café, ao telefone.
Foi exatamente após este telefonema que tudo mudou.
Uma hora depois Edmond viu um caminhão de mudança estacionar em frente ao prédio do excêntrico vizinho.
Em duas horas exatas, esvaziaram o apartamento.
Depois disto, Edmond notou que o vizinho ficara duas semanas, sem sair de casa, com as cortinas cerradas. Começou a preocupar-se já que julgava seu vizinho um tanto quanto esquisito.
Mas para seu deleite, numa quarta-feira exatamente ao pôr-do-sol, o esquisito vizinho abriu novamente as cortinas das janelas do apartamento.
Qual não foi a surpresa de Edmond ao constatar, que nada mais havia dentro do mesmo a não ser aquele conjunto de delicadas nuvens penduradas na sala.
Daquele dia em diante, ficaram ele e Edmond, a observar as tais delicadas nuvens suspensas no teto da sala.
Embora Edmond observasse sua vida pela janela, ele nunca soube da existência de Edmond. Nunca nem ao menos se esbarraram pelas ruas próximas de suas casas.
E não, não os julguem mal! Eles não eram infelizes.

Cristine Larissa Clasen

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